quarta-feira, 30 de julho de 2014

EMPAIANDO A RAPADURA ! ! !



Buenas Gauchada!
- Ô Eleutério! Esta semana nós vamos preparar o galpão para a festa de São João, já que estamos quase saindo de julho e eu ainda não fiz a fogueira que prometi prá piazada.
- Indio véio, tu sabia que nas festança das invernias de junho, não é uma, mas três fugueras e que cada uma delas tem um jeito, vivente!
- Tu tá louco, tchê! De onde tiraste esta história?
- Pos óia! É a más pura das verdade. Pur inzemplo: a fuguera de Santo Antonho é acesa no dia treze de junho. Começa com premera camada feita com quatro tora deitada - fazendo um chiquerinho - o que se chama de Pé Quadrado. E adespos ela sobe, no mesmo formato, intercalando uma camada com outra, inté completá uns trinta a quarenta degrau.
Já, a fuguera de São Juão, tem que se acende no dia vinte e quatro de junho e nem é feita de camada. Premero vai o mastro mestre, que mede de vinte a trinta metro, e despos, em volta do mastro mestre, num formato de roda, vai se encostando as trama de dois a três metro, despos se coloca, em volta das trama, os pontalete, de más o menos cinco a seis metros e por volta de todos se encosta as tora de dez metro prá cima, completando a roda, que é chamada de Pé Redondo.
Pru fim, tem a fuguera de São Pedro. Essa fuguera é acesa no dia vinte e nove e junho e é montada do mesmo jeito que a de Santo Antonho, mas invéis de quatro tora, se deita só trêis, fazendo um triango - É purisso que se chama de Pé de Bico - que tamém sobe inté completá trinta ou quarenta camada.
- Barbaridade, tchê! Não é que tu sabes mesmo. Onde aprendestes tudo isso?
-Numa olada fui arigó, num arrozal, nas várzea de Rio Pardo, na granja da Família Wunderlich. Lá, Impecei em novembro, como taipero prá inquilibra a aguada do arroz e fui trabaiando até junho, já como chiripa, que é aquele que auxilia na coieta do grão.
Terminada a coieta do arroz, fui changueá em Ramiz Galvão, na Aldeia de São Nicolau. Lá aprendi sobre as fuguera, quando me acostei de cambitero, levando cana da lavora até a moenda, prá fazê cachaça, melado e rapadura. Por lá fiz miles de rapadura.
Chegando a cana da lavora, se limpava ela e mandava prá prensa, prá tirá o caldo e fazê a garapa. Cum o bagaço da cana nóis alimentava a fornaia, que num tacho – o parol - fazia a garapa fervê. Inquanto a garapa fervia, de quando em vez, nós passava a espumadera prá retirá a espuma da fervura e fazia a mexedura inté a garapa se transformá num melado.
A mexedura se fazia inté a cristalização, quanu a massa, ainda molenga, era derramada num gamelão de três metro de comprimento, por sessenta centímetro de largura e trinta centímetro de altura, prá começá o resfriamento inté a hora de botá nas forma.
Nas forma - que são ripa de madera, formando um quadrado de um metro de comprimento por dois centímetro de altura, cum deiz divisória interna – se deitava a massa cristalizada inté o ponto da rapadura, que se alcançava com, más o menos, uma hora de enformação.
Despos se desenformava, virava de lado prá seca e táva pronta a rapadura que ia sê vendida na Festança Junina do Colégio Elementar, que ficava a uns cinco o seis quilômetro da Aldeia.
Nessa festa as fuguera erum acesa no terreno baldio, ao lado do sobrado do Colégio e em frente da casa da Dona Quininha, vendedora de jogo de bicho e costurera nas hora vaga.
Como acontecia todo us ano, nas festa de São Juão, vinha prá casa da Dona Quininha a Dinorá, afiada da dita Quininha que, carinhosamente, chamava ela de Norica.
Bueno, a Norica era moça que morava na roça. Mesmo sendo muito bunita, ainda tava sortera, sem um cambicho e quase sorterona. Tinha fama de muié trabaiadera - dizem que passava no cabo da enxada ou fazendo a lida de campo - e como andava sempre imbodocada no lombo dum cavalo, só usava bombacha.
Pos, a Dona quininha, madrinha da Norica, priocupada cum a sorterice da afiada, arresorveu que, naquele ano, ia fazê uma simpatia prá o Santo Antonho dá um jeito na situação da sorterice da moçoila, já que ele era santo casamentero.
Prá começa o entrevero, a custurera foi na Casa Rio e compro pano de chita prá fazê um vestido lindote prá prenda. Despos do vestido feito, Dona Quininha passou a mão no Santo Antonho, tirou o minino Jesus do colo dele, dexo ele virado prá parede e disse que só entregaria o Jesuzinho quando a Norica se enrabichasse num peão.
No dia da festa a Norica pego a se imbelezá. Fêz uma trança nas clina, passo carmim nus beiço, meteu água de chero no suvaco e não se isqueceu de botá uma gotinha atrás da oreia, infiou o vestido e aí se alembrô que não tinha trazido as ropa intima.
A Dona Quininha não se apertô, como era custurera curtida foi na venda do Seu Maneco e pediu um saco branco. Voltô, deu umas três o quatro tesoradas, meteu a mão, mais uma veiz, na manivela da máquina de custurá e dentro de um tempito a calcinha da afiada tava nus trinque.
A Norica infiou a calçola feita em casa e se mandô prá festa, mais gasguita que caturra verde se esbaldando num milharal.
A festa tava animada. O piazedo atirava rojão, buscapé e cabeça de nego e o poverio se alastrava no pátio. Uns se impanturavum de pastel, pipoca, canjica, milho cozido, bolo de amendoim, pé de moleque, bolo de fubá e claro, rapadura. Otros gastavum us pila nas barraca de pescaria e mais otros se isganiçavum no leilão dum porco assado no rolete.
Inté tinha otros correndo cum us pé infiado num saco de batata o intão cum um ovo de galinha garnizé, inquilibrando numa cuié, que ficava infiada nus beiço dus vivente.
Áh! E o Fandango? Esse tava loco de bem bom, tchê! Na gaita o Nego Beiço, no violão o Vadinho, no pandero o Toveco, irmão da Vadinho e no Salão do Elementar, que era o térreo, a Norica, sacudindo o recavém, as veiz com o chofer de praça, o Arão Marques e otras veiz com o barbeiro Pulsério, saracoteava um Maçanico, a Cana Verde, u Pézinho i u Balaio, isso sem falá nas valsa; vanera; vanerão; xote; milonga; bugio; ranchera i chamamé.
Despos de tanto fudunço, a Norica tava cansada e arresorveu discansá. Passou a mão num cepo e como tava acustumada a andá só vistida de bombacha, deu um puxão, prá riba, no vistido e arreganhô as perna. Um cuera maleva, vendo aquilo i sem tirá os óio das perna da moça, impeço a si ri. A prenda não gostô e foi prá cima do índio.
- Tu para de te fresquiá, borracho veio. Nunca viste uma calcinha de muié?
O borracho dá uma resfungada, e destramela a lingua: - Óia moça, vê carcinha de muíe inté eu já vi umas, mas iscrito "ração pra pinto" é a premera veiz.
Bueno, tchê! Como a tramóia acabo eu não sei, pos me mandarum abastecê a barraca e eu me mandei lá prá dentro e fiquei, solitito no más, empaiando a rapadura.
 Fonte! Coluna Charla de Peão, por Juarez Cesar Fontana Miranda (poeta nativista), publicada no Jornal Regional do Comércio, dos pagos da cidade litorânea de Cidreira (RS), edição desta última semana de julho de 2014. Contatos com o colunista, mande um chasque abagualado para juarezmiranda@bol.com.br ou jornaljrcl@terra.com.br

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